Anti-lista: o que não desejamos para a internet em 2020
2019 foi pesado, começando com a polarização pós eleições nas redes, nas famílias, Amazônia queimando por conta de grupos de WhatsApp, passando pelo carnaval do golden shower, avistamento de meteoro em abril (meteoro esse que já era pedido antigo, mas não causou o efeito que todo mundo esperava). Depois disso, rolou rinha de presidentes, lançamento de celular dobrável, tudo com direito a muita automação no WhatsApp, que também adimitiu esse ano, em um mea culpa tímido, durante um evento. Culminou com o executivo da Huawei dizendo que os Estados Unidos tratam a América Latina como se fosse o quintal norte-americano – uma expressão que ficou meio "o sujo, falando do mal lavado", já que a China também exerce o mesmo tipo de pressão em seus vizinhos. Teve tanto escândalo esse ano que ficou difícil não falar de distopias, especialmente de "O Conto da Aia", que a cada dia parece mais próximo da realidade no Brasil. Aumentando essa força negativa que foi 2019, vou adicionar uma lista com os piores acontecimentos do ano para a internet livre no Brasil.
Pra cumprir essa tarefa, perguntei pra geral no Twitter, usando a hashtag #OPiorDesseAnoFoi. As respostas, como já esperava, ressaltaram como nesse ano que passou a internet livre continuou sob ameaça do tipo chumbo grosso.
Veja também:
- O futuro que não chega
- A pressão para amar o trabalho vai acabar com nossos hobbies?
- O celular sabe tanto de você que já pode 'ler' seu pensamento
O advogado especialista em privacidade e dados, Danilo Doneda, foi enfático: aprovamos a Lei Geral de Proteção de Dados, mas no meio da bagunça, muitas empresas continuaram atuando como se nada tivesse acontecido. Em outras palavras, aparentemente ninguém acredita que a lei vai colar.
Já Marina Pita, ativista e pesquisadora de Internet & Sociedade, ressaltou o fato de que no pacote recente de combate ao crime está previsto um banco de dados novo de DNA, que ninguém sabe ainda como vai funcionar nem quem vai guardar ou proteger.
Muita gente ressaltou o fato de que teve também a criação do tal "banco de dados integrador" do Governo brasileiro. Com aquela cara de problema criado para vender solução, essa base vem com a suspeita de que seria só mais uma maneira de controlar os cidadãos via dados, com vigilância pesada nas redes e das contas em banco de todos nós.
Falando em contas bancárias, foi aprovado o cadastro positivo, na aba do lobby dos bureaus de crédito. O cidadão agora que pagar suas contas vai estar em uma lista, disponível para consulta, por um preço módico. Isso mesmo: a empresa (pode ser a Serasa, mas existem outros bureaus de crédito no Brasil) vai ganhar, e muito, com a venda da informações sobre a situação financeira dos cidadãos. Convenhamos que, em um país com mais da metade dos domicílios endividados, é um baita negócio.
Outro destaque do ano foi o apreço dos presidentes do BRICS pelo modelo de Internet fechada. Falei disso em um artigo sobre a reunião que aconteceu no Brasil esse ano e trouxe os países em desenvolvimento chegados em uma censura na Internet para falar de negócios.
Falando em inconstitucionalidade e censura da Internet, em 2009 um político – que agora está preso – propôs um pacote terrível para a liberdade na Internet que levava esse apelido: AI5 Digital. As propostas eram praticamente as mesmas que estão na câmara hoje, visando cercear o direito de uma Internet livre:
- Monitoramento de Whatsapp e outros aplicativos de mensagens;
- Transformar manifestação em crime;
- Obrigar o vivente a colocar o CPF pra navegar na Internet (é serio)
- Permitir o cruzamento de dados de todo mundo, inclusive biometria, pra "encontrar crimes"
- Verificar todos os pacotes de dados sendo trocados na internet (ou seja, querem ver seus nudes)
Provando que estou dizendo a verdade, aqui vai um vídeo de uma época onde havia resistência forte a esse fechamento da Internet, com um debate sobre a necessidade de manter a Internet livre – com ou sem fake news, de 2010:
Meganao Brasília 14-12-2010 Fala Ariel Foina from Ricardo Poppi on Vimeo.
Teve o adiamento de Doom Eternal pra 2020, o fato de que o Brasil está virando um server de Minecraft, só que desorganizado – com o decreto que regulariza terras públicas grifadas, ou seja: está liberado o "Griefing" (que é quando alguém rouba seus itens no jogo).
O ano também foi marcado pela influência direta de astrólogos no governo. Quem diria, em plena virada da década o Brasil está aí, apostando nessas ciências antigas. A astrologia também tem influência nas redes. No twitter os especialistas ja começaram a avisar que ano que vem não vai ser fácil e que mais dramas se avizinham:
Pra terminar, 2019 foi o ano da morte do gênio Brasileiro João Gilberto. Aqui vai uma lista do Spotify pra gente marcar a homenagem.
Em 2020 teremos muitas mudanças na Internet, especialmente nas redes sociais. O YouTube já começou a desvalorizar conteúdos enganosos, com foco em pseudociência. Esperemos que a mudança chegue ao português em breve.
Já o Twitter anunciou que vai esconder os posts ofensivos dos políticos – então ano que vem não vai mais ter golden shower presidencial. Seria bom mesmo é se o twitter escondesse os políticos ofensivos, porfavorzinho. Especialmente porque ano que vem teremos eleições para prefeito no Brasil e eleições nos EUA. Como previram os astrólogos, muito drama e tretas se avizinham no ano que vem.
Esperemos que pelo menos o assassinato de Marielle e Anderson seja esclarecido antes da aprovação de atos de censura na rede.
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